eu sou do tamanho dos meus sonhos desesperados por algum senso de realidade fantástica que me faça saltar sem paraquedas de mim mesmo
porque os sonhos estão presos ao ar que respiro, ao meu nariz, ao meu pé, ao meu olho direito, a minha dor por tê-los presos a tudo e me sentir presa neles
porque os sonhos são um estado de espírito o que me faz não ser concreta, mas uma manifestação ilusória de algum fanatismo poético das minhas pulsões
pulsões que nada são além de sonhos
eu então busco uma dose de vinho, qualquer vinho fudido de qualquer esquina que me atraia pelas luzes amarelas e pelo humor horrendo da vida moderna capaz de me fazer parir os verbos
para enfim poder declamar a poesia da qual sou feita e então provar que sei viver sem saber de nada sobre a gênese surreal de tudo que tenho e de tudo que importa, a vida
sou prodigamente inexistente. penso e sonho e, por isso, inexisto nos tempos passado presente e futuro porque minha insatisfação ingratamente egoísta sufoca qualquer possibilidade de eu ser algo além de nada ou ser algo além de um tudo passageiro
violentamente destruo qualquer base racional que qualquer gênio contruiu por escadas humanas que ligam nada à nada
vivendo por não ser nada e nada nunca ser.
Andreza Silva